O despertador tocou às 3h30 da manhã. Era hora de levantar e conferir os equipamentos que seriam usados logo mais na captura de imagens e entrevistas para a reportagem especial sobre a saúde indígena no Brasil. Para isso, o cinegrafista e eu, fomos enviados de Brasília para o interior do Amazonas, em uma cidadezinha chamada Tabatinga que faz fronteira com Letícia, uma cidade colombiana – e daí vem o termo cidades-gêmeas. De uma lado da rua é Brasil e do outro, a Colômbia.
Nossa missão era registrar in loco um exemplo bem sucedido na aplicação dos recursos que o Ministério da Saúde destinou para melhorar a saúde da população indígena. Precisávamos acordar cedo assim porque nosso destino ficava a uma distância de três horas de viagem de lancha saindo do pequeno porto fluvial em Tabatinga. O local era Belém do Solimões, uma das maiores aldeias no Brasil e com população estimada em mais de seis mil indígenas. E assim seguimos nossa viagem com uma lancha pequena – do mesmo tipo utilizado para o transporte de doentes graves e emergências que não podem ser resolvidas no Polo Base, que é uma unidade de saúde dentro da aldeia.
Ao longo das pouco mais de três horas, vimos uma incrível quantidade de casas de palafita margeando o Rio Solimões. Em um barco de menor capacidade, a viagem poderia durar quase um dia inteiro. E para quem esperava ocas, ao chegarmos a Belém do Solimões, nos deparamos com uma verdadeira cidade com ruas e casas todas de madeira, além de uma “rua principal” com o que um dia foi asfalto. Seguimos direto ao Polo Base, onde foi possível acompanhar o atendimento de crianças – um dos tipos de atendimento mais comuns, como nos revelou uma enfermeira.
Aqui é importante destacar, que naquela época, a vacinação das crianças indígenas menores de sete anos gerou um alcance de 80%. Além disso, mais de 80 mil crianças de até cinco anos receberam acompanhamento nutricional, o que representava 91%. Esses números colaboraram para a melhoria nos índices de mortalidade infantil indígena por todo o país. E daí veio o motivo da nossa reportagem.
Mas um dos pontos que mais me chamou atenção naquela apuração jornalística foi o empenho e a dedicação. Nessa viagem ao Polo Base de Belém do Solimões conversamos com todos os profissionais que moram na aldeia. Sim, eles moram na aldeia. Não é possível realizar a travessia do Rio Solimões todos os dias então esses profissionais abdicam de uma forma de vida com o conforto da cidade e da família para viver escalas de trabalho que duram até 20 dias na aldeia e 10 na cidade.
Mas você se pergunta por que resolvi falar dessa experiência. É simples: esses dias, ouvi um pai reclamando por esperar 10 minutos em uma fila para vacinar seu filho. Detalhe: Eles moram no prédio em frente ao posto. Imagine se tivesse de enfrentar um obstáculo maior…
Fontre: Agencia Radio