Nos próximos anos, o Brasil terá de enfrentar a necessidade de modernizar todo o sistema energético nacional. A avaliação é do ex-ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB), que deixou o cargo na última semana, transmitindo a função para o almirante-de-esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior.

De acordo com Franco, não fosse a crise e a recessão econômica, o país “teria vivido o maior apagão da história”. Isso porque, segundo ele, o atual modelo energético adotado no Brasil não atende mais o país.

Durante o evento que marcou a transição de cargo entre Franco e o novo ministro, o emedebista analisou que, caso a economia cresça “por 3 anos sucessivos a uma taxa anual de 2,5% a 3%, será preciso aumentar o fornecimento de energia”, caso contrário as dificuldades começarão a aparecer.

A avaliação já havia sido feita por Franco em outras oportunidades, como na Conferência Internacional Datagro, um dos mais importantes eventos do calendário mundial sobre açúcar e etanol, realizado logo após o segundo turno das eleições, no ano passado.

“Nós que tivemos sempre um modelo calcado na fonte hídrica, este modelo está encerrado. A fonte hídrica não nos dá mais a segurança que deu no passado, porque ela é tão dependente da natureza como as outras fontes que o setor hídrico acha que são fontes menores porque dependem da natureza. E eles não se olham no espelho e veem que eles também já dependem da natureza. Então, nós precisamos diversificar, não só por um compromisso com a energia limpa, mas para que nós possamos garantir segurança, abundância ao nosso sistema energético”.

O especialista em energia e professor da Universidade Federal Fluminense, Luciano Losekann acredita que a avaliação de Moreira Franco quanto à segurança do abastecimento energético está correta.

“A gente passou por uma situação bem crítica nos últimos dois anos no setor elétrico no momento em que a economia e a demanda estava muito baixa. Os reservatórios estavam vazios, mesmo com o consumo de energia muito reprimido por conta da crise econômica. Então, eu acho que ele tem razão nesse ponto. A gente estava em uma situação de sistema bastante vulnerável”.

De acordo com o Boletim de Conjuntura do setor Energético, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em dezembro do ano passado, cerca de 80% do total da oferta de eletricidade no Brasil é provida por fontes renováveis. Isso acontece por conta da geração hidráulica, principal fonte da matriz elétrica com 65,2% do total, seguido da biomassa com 8,2% e a eólica com 6,8%.

Luciano Losekann analisa que o Brasil possui uma matriz que está em mutação. Segundo ele, até os anos 90, quase tudo era sustentado pela hidroeletricidade. No entanto, com o passar do tempo, o país começou um processo de diversificação, “inicialmente apostando muito nas termoelétricas de gás natural e em outros tipos de termoelétricas. E agora, mais recentemente experimentando a entrada de outras fontes renováveis, como a energia eólica e solar”.

Losekann, ressalta porém, que esse movimento de diversificação impõe alguns desafios, uma vez que o paradigma de funcionamento do setor elétrico se modifica.

“Então, quanto a segurança do abastecimento que é o tema tratado pelo ministro, nós temos um novo desafio. Principalmente porque a gente tinha reservatórios hidrelétricos que eram suficientes para atender a demanda e esses reservatórios eles deixam de ter representatividade porque as novas hidrelétricas são construídas sem contar com reservatórios, por conta dos impactos ambientais e, por isso, a capacidade de armazenamento de hidroeletricidade tem caído ao longo do tempo em termos relativos. Então, cada vez mais a gente tem uma caixa d’água para atender o sistema que é menos relevante em relação ao consumo dessa água. Então, a gente vive numa situação que gera vulnerabilidade”.

O novo governo já tem demonstrado atenção com o setor. O atual ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que serão necessários investimentos da ordem de R$ 1,8 trilhão na área de energia até 2027. O ministro, no entanto, informou que deste valor, R$ 1,4 trilhão vão para o segmento de petróleo e gás.

O ministro tocou no assunto durante a cerimônia de posse do novo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, no Rio de Janeiro, na última semana.

Ao fim da cerimônia, em conversa com jornalistas, Bento Albuquerque defendeu o uso da energia nuclear, destacando que o Brasil tem a 6º reserva de urânio do mundo.

Reportagem, João Paulo Machado/Agência Radio

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