O desastre ocasionado pelo rompimento da barragem de resíduos de minério na cidade de Brumadinho (MG), coloca a atividade de mineração no centro do debate público nacional. Este é o segundo acidente envolvendo barragens por aterro hidráulico em menos de três anos no país. Em 2015, o rompimento da Barragem de fundão, na também mineira, Mariana, causou estragos humanos e ambientais que são sentidos até hoje.

This combo of satellite images provided by DigitalGlobe shows an area northeast of Brumadinho, Brazil on June 2, 2018, top, months before a dam collapsed and covered the area, below, seen on Saturday, Jan. 26, 2019. Brazilian officials suspended the search on Sunday, Jan. 27, for potential survivors of the Jan. 25 dam collapse that has killed at least 40 people amid fears that another nearby dam owned by the same company, Vale, was also at risk of breaching. (DigitalGlobe, a Maxar company via AP)

Os aterros hidráulicos podem ser construídos a partir três métodos: alteamento à montante, alteamento à jusante e método da linha de centro. Todas as formas incluem a construção de um dique de partida, ou seja uma estrutura que mantenha determinadas porções de terra secas. A diferença entre os três métodos está na direção em que o alteamento é feito. No primeiro caso, utilizado em Brumadinho e Mariana, os degraus são feitos com o próprio rejeito. No método ‘jusante’, os degraus são criados na direção da corrente dos resíduos. Por último, na forma ‘linha de centro’, os degraus são feitos exatamente um sobre os outros, mantendo constante o eixo de simetria.

Mestre em Gerenciamento de Riscos pela universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o economista Gustavo Cunha Mello explica que as barragens hidráulicas são as estruturas mais baratas para a atividade mineradora. O especialista, ressalta, porém, que todas as estruturas oferecem risco e algum tipo de poluição. Por isso, Gustavo enfatiza a necessidade da realização de manutenções cotidianas e rigorosas.

O especialista falou com exclusividade à Agência do Rádio Mais.

“Todo tipo de sistema de mineração pode causar algum dano à natureza. O problema não está no fato da barragem ser hidráulica, ou não. O problema está na gestão dessa barragem, em como fazemos para não termos mais acidentes como vimos em Brumadinho e em Mariana.”

Gustavo Cunha critica o discurso de quem prega a possibilidade de se impedir a construção de novas barragens, uma vez que isso poderia sobrecarregar o trabalho das estruturas já existentes.

O especialista relembra que em casos de desastres como os de Mariana e Brumadinho, os engenheiros são sempre punidos. E de fato. Nesta semana, dois engenheiros de uma empresa contratada pela Vale foram presos temporariamente por 30 dias para prestar esclarecimentos sobre o desastre.

No entanto, Gustavo crítica que a legislação não é tão punitiva com as empresas envolvidas. Uma mudança neste fator poderia evitar problemas futuros.

“No momento que você cria uma exigência para os presidentes e os diretores dessas empresas, para que eles sejam corresponsáveis, eles próprios tomarão mais cuidado”.

Gustavo Cunha ressalta ainda a importância da atividade mineradora para Brasil e para o estado de Minas Gerais, que carrega a riqueza do minério no próprio nome.

“A importância da mineração para o Brasil é imensa. Gera muitos empregos, só a Vale gera mais de dois milhões de empregos diretos e indiretos, é muita gente. Todas as outras mineradoras também geram muitos empregos. O Brasil é um exportador de commodities, não só agrícolas, mas mineração também. O estado de Minas Gerais carrega a mineração no nome. Então precisamos da mineração, sim.”

O especialista também destaca que o Governo Federal precisa tirar lições de desastres como os de Brumadinho e Mariana. Ele aponta, entre outras coisas, para a importância de se incentivar o reaproveitamento dos resíduos em materiais de construção.

Reportagem, Raphael Costa/Agência Radio

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