Presidente criticou no domingo uma repórter do jornal ‘O Estado de S.Paulo’. Ele se baseou em informações de um blog hospedado no site francês Mediapart. Nesta segunda, o Mediapart afirmou que essas informações são falsas e que o blog é independente da redação do site. O Palácio do Planalto não quis se manifestar sobre o assunto.

Um comentário do presidente Jair Bolsonaro numa rede social contra uma jornalista gerou muitas críticas nesta segunda-feira (11).

“Constança Rezende, do ‘O Estado de SP’ diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o Impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otávio, profissional do ‘O Globo’. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos”, escreveu o presidente, em post às 20h51 de domingo.

Bolsonaro se baseou em uma publicação de um site de apoiadores do seu governo. O presidente republicou uma gravação postada no site que mostra a interpretação distorcida de uma resposta em inglês da repórter durante uma conversa com um suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.

El candidato presidencial brasileño Jair Bolsonaro, del derechista Partido Social Liberal, durante una conferencia de prensa el jueves 11 de octubre de 2018 en Río de Janeiro. (AP Foto/Leo Correa)

Veja abaixo a reportagem completa do JN:

Antes da postagem do presidente, o jornal “O Estado de S.Paulo” já havia publicado um esclarecimento dizendo que o site citado por Bolsonaro distorceu o conteúdo da entrevista da repórter. O jornal informou que Constança não fala em “intenção” de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas.

O “Estadão” diz que, em determinado momento, a repórter avalia que “o caso pode comprometer” e “está arruinando Bolsonaro”, mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido.

O conteúdo desse áudio havido sido divulgado no começo de março no blog de um jornalista que atua na França, Jawad Rhalid.

O jornal “O Estado de S.Paulo” esclareceu também que a repórter Constança Rezende não deu entrevista nem conversou com o jornalista francês.

Caso Queiroz

O jornal afirmou, ainda, que o site brasileiro falsamente atribui à repórter a publicação da primeira reportagem sobre as investigações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) a respeito da movimentação considerada atípica nas contas do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).

Um relatório do Coaf apontou no fim do ano passado transferências atípicas feitas por Fabrício Queiroz. Ele movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz foi assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro de Flávio Bolsonaro, filho mais velho de Jair Bolsonaro e hoje senador.

Outro relatório do Coaf apontou transações bancárias suspeitas na conta de Flávio, entre junho e julho de 2017. O relatório detalhou 48 depósitos em dinheiro no valor de R$ 2.000 cada um na conta de Flávio Bolsonaro.

Texto compartilhado

Segundo o blog do jornalista Ruben Berta, Fernanda Salles Andrade, que assina o texto do site compartilhado por Bolsonaro, tem cargo em gabinete do deputado estadual de Minas Gerais, Bruno Engler (PSL). O Jornal Nacional também confirmou essas informações.

De acordo com o jornal “O Estado de S.Paulo”, o site dos apoiadores de Bolsonaro voltou a atacar a jornalista utilizando-se de conteúdo falso. Publicou duas mensagens retiradas de um perfil que não era da repórter.

O deputado Bruno Engler admitiu que a assessora dele é a responsável pela publicação no site brasileiro, mas disse Fernanda Salles Andrade apenas reproduziu reportagem de um site americano.

No fim da tarde, o site francês Mediapart, que hospeda o blog de Jawad Rahlid, afirmou que se solidariza com a jornalista vítima de ameaças. O Mediapart disse, ainda, que as informações que serviram de base para a publicação do presidente são falsas. O site afirmou que o artigo é de responsabilidade de Jawad Rahlid e o blog é independente da redação do jornal.

Reação

Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) afirmaram que “o presidente Jair Bolsonaro fez um novo ataque público à imprensa, desta vez valendo-se de informações falsas. Isso mostra não apenas descompromisso com a veracidade dos fatos, o que em si já seria grave, mas também o uso de sua posição de poder para tentar intimidar veículos de mídia e jornalistas, uma atitude incompatível com seu discurso de defesa da liberdade de expressão”.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) afirmaram que “lamentam que o presidente da República reproduza pelas redes sociais informações deturpadas e deliberadamente distorcidas com o sentido de intimidar a jornalista e a liberdade de expressão”.

Abert, Aner e ANJ destacaram que “os ataques à repórter têm o objetivo de desqualificar o trabalho jornalístico, fundamental para os cidadãos e a própria democracia”. As entidades afirmaram, ainda, “que a tentativa de produzir na imprensa a imagem inimiga ignora o papel jornalístico independente de acompanhar e fiscalizar os atos das autoridades públicas”.

Desafio

Especialistas afirmam que a disseminação de informações falsas, as chamadas fake news, é um dos principais desafios a serem enfrentados atualmente, porque prejudica a tomada de decisões e coloca a democracia em risco.

Pesquisa publicada na revista americana “Science” feita entre 2006 e 2017 com mais de 126 mil notícias concluiu que a probabilidade de fake news serem compartilhadas na internet é até 70% maior do que a de uma notícia verdadeira. Elas se espalham mais rapidamente e atingem um maior número de pessoas.

O Palácio do Planalto não quis se manifestar.

Fonte: G1

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